domingo, 29 de março de 2009

Relatos de um sobrevivente de mim mesmo - o amor

não me deixas enfrentar a tragédia,
faz-me pensar dela a minha comédia
acolhes-me quando não o mereço
és um amor sem qualquer preço

és tão valiosa e eu custo tão pouco
és a sanidade pura neste mundo louco
das-me tudo e tudo mais de que preciso
fechas em mim o que eu sempre inciso

faço-te mal não merecendo o teu bem
sabes bem que sem ti não sou ninguém
agarro-me a ti, para não bater no fundo
quero-te rainha de mim, do meu mundo

inspiras-me, mas não o consigo nunca admitir
se o meu coração por ti não bater, está a mentir
és tão suave que a minha pele mal te sente
és a minha morte, o meu beijo da serpente.

sexta-feira, 20 de março de 2009

Relatos de um sobrevivente de mim mesmo - O obscuro

Anda e vem-te a mim,
o que te inquieta?
É a minha presença?
Ou a minha língua afiada e recta?

Junta-te, ao meu aconchego
e sente-me espetar-te
Não mudes por mim,
quero tanto esvair-te

Respira-me e obtens-me,
mas antes aprende a me ter
Mantém-te firme,
estou prestes a meter

Grita, assim eu quero,
a tua dor, o teu sangue a fervilhar

Pela tua agonia eu desespero,
como o gosto pelo jeito de te chacinar


( no limiar da tua dor, eu me ergo e findo a tua agonia )




Porque corres tanto se esta sala tem as tuas paredes?
Porque foges de mim se o mundo é todo teu?
Porque te aqueces do calor que já não é o meu?
Porque me trancas em ti se já matei as tuas sedes?

Respondes-te às perguntas que outrora tinham questionado as decisões da tua vida.

o teu sangue é somente meu!!!

sábado, 7 de março de 2009

A névoa esconde o teu rosto, mas não os teus pecados.

Corrompe o que por ti tenho, e deixarei de te sentir
desmembra o nosso manequim lustrado de afeições
enquanto luto contra todas as minhas contradições,
e não será outrem que as nossas regras te vai incutir

estamos tão incumbidos e presos neste casulo implacável
sou o ramo desta árvore, tu és a seiva, és o meu sangrar
mas sou forte, sou irresistível, sou o teu pecado, sou inabalável
és a sensação intrépida que nas minhas veias continua a laminar

traz-me as tuas tropas, dou-te as boas vindas ao armageddon
imponho-me a ti desta feita, sou o teu rei e estou a convalescer
jogas em casa, mas eu tenho a planta do teu jardim de Éden
perante mim é fulminante o teu latejar , adoro entorpece-lo



eu já te possuía muito antes de tu te possuíres...

segunda-feira, 2 de março de 2009

Relatos de um sobrevivente de mim mesmo - O quarto

É indescritível a sensação de efémeridade vital que trespassa o meu ser,
que faz juz a tudo aquilo que repentinamente rastreou o que senti,
e me condena a viver plenamente prosperando a minha inevitável pós-vida

sinto-a a tomar-me, ceifar-me,
rainha dos caídos, a ti terei de enaltecer,
sinto o calafrio enrijecendo os meus movimentos,
vives em mim nas minhas noites, tu és o meu amanhecer,

e em mim não adormeces...

estou tão saturado de ti,
e ainda a penumbra mal pairou...